Entre Fronteiras e Medos: Um Desabafo Sobre a Vulnerabilidade Feminina no Mundo

Na última sexta-feira, 1º de março, um incidente terrível e revoltante veio à tona, reacendendo o debate sobre a segurança das mulheres em viagens solo pelo mundo. A influencer brasileira Fernanda Santos foi vítima de um ataque brutal e desumano por oito homens, que a estupraram e assaltaram. Ela e seu marido Vicente estavam em um acampamento na Índia, onde depois iriam seguir para o Nepal.

 Este acontecimento não é apenas uma notícia isolada; é um espelho de uma realidade dura e cruel que mulheres ao redor do globo enfrentam diariamente.

Como nômade digital e mulher, eu percorro o mundo buscando liberdade, conhecimento e conexão. No entanto, a cada nova jornada, carrego comigo o peso de uma vulnerabilidade imposta não por escolha, mas por gênero. O território indiano, palco deste crime abominável, é frequentemente citado como um dos mais perigosos do mundo para mulheres, com um estupro registrado a cada 17 minutos. Mas, é crucial reconhecer que essa triste realidade não é exclusividade da Índia.

No Brasil, minha terra natal, enfrentamos números alarmantes: cerca de 822 mil casos de estupro a cada ano, ou seja, dois a cada minuto. Em 2018, um levantamento da Thomson Reuters Foundation, que consultou cerca de 550 especialistas em temas femininos, colocou Afeganistão e Síria, seguidos por Somália e Arábia Saudita, como locais extremamente perigosos para mulheres, abordando quesitos como sistema de saúde, recursos econômicos, práticas tradicionais, abuso sexual e não sexual e tráfico humano.

Esta realidade global reflete-se também em estudos mais abrangentes sobre a qualidade de vida para mulheres ao redor do mundo. O “Women, Peace and Security Index”, criado pelo Instituto para Mulheres da Universidade de Georgetown, analisa a inclusão das mulheres, acesso à justiça e segurança em 170 países. Os países nórdicos, como Noruega, Finlândia e Islândia liderando, são exemplos de ambientes onde as dimensões de inclusão (econômica, social e política), justiça (leis formais e discriminação informal) e segurança (nos níveis individual, comunitário e social) alcançam as melhores avaliações. O Brasil, no entanto, encontra-se na 80ª posição, empatado com Fiji e Suriname, com uma média de 0.734, ligeiramente acima da média global de 0.721.

Mas diante disso tudo, estou profundamente indignada com a falta de empatia e a cruel tendência de culpabilização da vítima que se manifesta em casos como o de Fernanda. Questionar suas escolhas, insinuar que ela “deveria saber” dos riscos, é ignorar o direito fundamental de liberdade e explorar o mundo sem medo. A culpa nunca é da vítima. Nenhuma mulher deve ser responsabilizada pela violência sofrida. Essa mentalidade não só desumaniza a vítima, mas também perpetua um ciclo de silêncio e medo.

 Eu já fui vítima de agressão de um ex namorado, e o que mais me intrigava em algumas pessoas que me perguntavam, e dessa maioria mulheres era: “Mas o que você fez para ele?” Como se eu merecesse ter apanhado. Isso para mim é extremamente surreal. E infelizmente isso acontece muito ainda; quando uma pessoa julga a mulher pelas suas vestimentas como se a mesma estivesse pedindo para ser estuprada.

Eu por estar sempre viajando muito pelo Brasil, e para outros países, acabo tendo muito contato com várias pessoas do mundo, e sempre digo que o Brasil não é um país livre de fato como muitos acham. Somos o país do carnaval, onde as mulheres ficam de bumbum de fora durante o carnaval. Mas vai fazer um topless na praia para ver como todos julgam? Ao contrário dos nossos vizinhos uruguaios, onde pode se fazer um topless tranquilamente, sem olhos o tempo inteiro. Assim como em muitos países da Europa.

Como comunidade global, devemos nos unir em solidariedade às vítimas de violência sexual e trabalhar juntos para criar um mundo onde todas as mulheres possam viver e viajar sem medo. É imperativo que governos, organizações e indivíduos colaborem para fortalecer leis, promover a educação para a igualdade de gênero e apoiar iniciativas que protejam e empoderem mulheres em todos os cantos do planeta.

A violência contra mulheres é uma chaga em nossa sociedade que requer ação imediata e decisiva. O caso de Fernanda Santos não é apenas um chamado para reflexão, mas um grito de guerra contra a indiferença e a injustiça. É tempo de mudança, tempo de garantir que nenhuma outra mulher tenha que suportar o que Fernanda enfrentou. Juntos, podemos e devemos fazer melhor.

Por um mundo livre de preconceitos, livre de julgamentos e principalmente: livre de medo.

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